domingo, 7 de julho de 2013

Bolivianos





“ Compadre, vengo sangrando desde los puertos de Cabra. Si yo pudiera, mocito, ese trato se cerraba. Pero yo ya no soy yo, ni mi casa es ya mi casa” [Federico García Lorca, Romance Sonámbulo, em Obra Poética Completa]

Explosão de cores e buzinas, a pontilhar tarde invernal paulista com numerosos pontos de luz. Acordes andinos. O grupo com suas vestimentas típicas, toma de assalto a calçada da esquina da praça Floriano, em SP. Munidos de suas quenas (flautas) e zampoñas (flautas de Pã), rasqueados de violões, charangos, e  marcações rítmicas de bombos lagueros.

Pintar a vida de imigrantes, com cores e acordes de sonhos mutantes. Eles estão por toda parte.  Por vezes, são confundidos com índios ou japoneses. Gente de pele morena, cabelos lisos e olhos puxados. Movidos a sonhos de melhores oportunidades. Fugindo da miséria em busca de oportunidade. Precariedade. 

Segunda maior comunidade de migrantes na cidade. Atrás apenas de portugueses, e superior a chineses e peruanos. São Paulo, cenário de passos e descompassos.

Cidade que abraça e também sufoca.

Expressões sérias, solenes. Ainda pulsa a lembrança do menino assassinado por chorar e também porque os pais não tinham mais dinheiro. Residência provisória em cubículos. Tirar o RNE (Registro Nacional de Estrangeiro), só com emprego regular e renda. Por trás das máquinas de costura muito suor e sangue. Na luta contra o preconceito vencendo dificuldades. Um medo travado que paralisa a voz e suga a crença na justiça. Violência a estancar a fé e motivar a meia volta. Volver à terra natal. O que mais se deseja: “La paz”.

Dias de angústia e silêncio. A violência que fascina e tange. Violência grátis sem necessidade de passaporte. Em acordes dissonantes.
(Suely Schraner)




 http://www.suelyaparecida.blogspot.com.br/

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