terça-feira, 7 de agosto de 2012

De camarote na Sala São Paulo

foto: suely schraner

foto: suely schraner

foto: suely schraner


Era noite e era fria.  Garoava não chovia. Do alto, ao fundo do estacionamento, uma igreja. Quem rezava? Quem chorava? As almas desalmadas na cidade tão amada. Mal amadas. Bem me quer, mal me quer. Querências. A vida na clave de sol. 

Luzes de neon a edulcorar concreto e gente. Lá vem o carro, risca o asfalto onde o homem embalado em cobertor, se expõe. Na lateral do prédio, a faixa diz “Memorial da Resistência”. Resistência com fé e esperança. Cidade de tanta andança. Lambança e dança. Maravilhas, ilhas. Continências transparentes. Impressões. Verdade. Maldade. Diversidade.

Filarmônica Bachiana SESI SP. Tchaikovsky escancarado. Persistências arraigadas.  Ensaios, profundidades. Raridades. Um aguarda outro foca.
Lá dentro cabeças de deusas a ligar toda sinapse. Em bronze, fragmentos.  

Concerto.
Em camarote, consortes. Uma deixou marido doente. Partiu para o fortalecimento da alma e corpo, contritos. Cuidar, apegar e desapegar. Ralar. Voltar no primeiro ato. A outra, pelas colunas derrete-se. Será dórica, será jônica? Majestosas, sim senhor. Afinadas em direção ao capitel. Graciosas, femininas, estilizadas. Fuste acanelado em base sólida. Alto relevo a enlevar.


Bravo! Bravo!Bravo! Maestros, João Carlos Martins e Alex Klein. Emoções que afagam.
 “Allegro con spirito”.


Nota: Sob regência do maestro Alex Klein e direção artística do maestro João Carlos Martins, a Filarmônica fez uma apresentação, dia 5 agosto 2012  a Piotr Ilitch Tchaikovsky, um dos compositores românticos russos mais reconhecidos no Ocidente. Surpresa: ao final o maestro João Carlos Martins se apresentou ao piano e o maestro Alex Klein ao oboé. Ambos têm uma história de superação por doença nas mãos.

domingo, 5 de agosto de 2012

O destino das flores



São Paulo de pedras, buracos, poluição e flores. De onde menos se espera elas surgem. Algumas existem de teimosas. Outras, mais privilegiadas, são dondocas de seus benfeitores.

A azaléia é considerada um dos símbolos de São Paulo.  (Rhododendron simsii). Consta que é boa para combater o formaldeído de fontes como madeira compensada ou espumas isolantes. Também é ótima para camuflar o odor forte do amoníaco. Já pensou? Dão notícia, que elas se estressam com a poluição e mudança climática e danam a florescer fora de época e de lugar. A azaléia é relacionada a Deusa Minerva, que é a Deusa da sabedoria e da razão.

A maria-sem-vergonha, (Impatiens walleriana), também conhecida como beijinho, dá em qualquer lugar e  faz questão de brilhar o ano todo.  Acredita-se que um banho com elas é casamento na certa.  Seus frutos encapsulados,quando maduros, se tocados, explodem e as sementes vão longe ampliando a área de dispersão. Resistem ao monóxido de carbono. Da família das balsamináceas, nativa de Zanzibar,dão flores vermelhas, violáceas, róseas ou alvas.

No Parque do Carmo, cerejeiras fazem a festa para urbanos de qualquer raiz ou matiz. As cerejeiras do tipo "Yukiwari" (rosa claro) a cada ano desabrocham e o Bosque das Cerejeiras é notícia na TV.

Numa esquina da av. Rio Bonito em São Paulo, onde antes existia um Lava Rápido, agora a cerejeira solitária floresce impávida. Chama a atenção de quem para a espera do semáforo abrir. 


Rente às calçadas, lírios da paz (Spathiphyllum wallisi), insistem em harmonizar pedra com pernas, lé com cré, pé com pé.  Li que são eficientes, eliminando os gases voláteis formaldeído, benzeno e tricloroetileno. Combatem ainda o tolune,  que se inalado pode causar cansaço, confusão mental, debilidade, perda de memória e náusea. E os esotéricos acreditam que limpam suas energias e seu ambiente familiar.

Num pequeno jardim de um asilo na Capela do Socorro, florzinhas entre raios fúlgidos, disputam a atenção dos transeuntes. Uma hortência aqui, um copo de leite acolá. Mais ao alto, imponente, outra cerejeira exibe alegremente suas florzinhas cor de rosa.
A cidade, as pessoas, suas dores, suas flores.

Um dia Zé goiano escreveu na capa da revista X-9: Até nas flores se encontram /a diferença da sorte,/ umas enfeitam a vida /outras enfeitam a morte.
A revista X-9 era proibida para menores. Muitos crimes, mistério e suspense, bons contos de Ellery Queen.

As flores de São Paulo combinam com a metrópole. Trabalhadoras incansáveis. Aqui nascem, se adaptam, crescem e morrem. Embelezam demonstrando amor incondicional à cidade.