domingo, 20 de fevereiro de 2011

São Paulo múltipla


Domingo, 23 de janeiro. Saímos de Interlagos, zona Sul de São Paulo. Da janela do automóvel uma cidade sem trânsito, iluminada por um sol resplandecente. 

Despudorada a se apresentar aos olhares mal despertados.

A 23 de Maio a ondular-se mais adiante. Serpente prateada antecipando o carnaval.
Da Líbero Badaró, caminhamos até a Rua Álvares Penteado

No CCBB, Centro Cultural do Banco do Brasil, a exposição Islã- Arte e Civilização.


Aprendemos que a palavra Islã remete a uma cultura, um modo de vida e a uma religião. Que a civilização árabe-islâmica contribuiu de forma relevante para a arte universal. Que no Islã, Deus é único, mas sua criação é múltipla. Fantástica é a evolução da caligrafia. Árabes e muçulmanos criaram letras e estilos surpreendentes. Que a diversidade cultural, tal qual em São Paulo, é fantástica.

Vimos fragmentos de arquitetura, manuscritos, iluminuras, peças de ourivesarias, cerâmicas, mosaicos, mobiliários, tapeçaria, vestuário, armas e muito mais.
Chegamos perto dos valores culturais de uma civilização da qual também somos herdeiros.

Na biblioteca, extasiados leremos trechos do alcorão.

Muito riso e pouco siso na portinha de madeira, do século 19.


Saberemos mais tarde, que não é réplica de mesquita coisa nenhuma e sim, “a porta do casal”.E que mostra, a importância da área íntima da casa. Ah, esses árabes das mil e uma noites!


No Museu da Língua Portuguesa, serão quatro horas de total imersão em Fernando Pessoa.



Assistiremos ao filme. Ouviremos música e poesia na Praça da Língua. Aprenderemos que Fernando Pessoa, plural como o universo, tem mais de 73 heterônimos. Veremos que seus personagens desfilam emoções neste palco filosófico. Concordaremos que São Paulo é também tão plural quanto o universo. Saberemos que ele é um poeta que agrada, incomoda e fascina. Comove e inquieta.

Na palestra, enlevados, concordaremos que tudo é símbolo e analogia.Que o futuro pertence àqueles que acreditam na beleza dos seus. Que uma declamação emocionada, entusiasma e motiva.

De noite, entenderemos que o homem necessita de pão e vinho. Empolgados comeremos pizza e entre risadas lembraremos que pensamentos e ações modificam o ambiente.

Entenderemos que, quem ama poesia, viaja no tempo.

Ficará mais claro o que Fernando Pessoa disse: viver não é necessário, o que é necessário é criar.

Sentiremos que a Ordem da Poesia e do Vinho, inspira “mensagem”, amizade e criatividade.

Tudo é carnaval



foto by peter schraner
Choveu na véspera. As plantas daquele jardim brilhavam como o olhar das meninas.

O trabalho envolvia buscar as pessoas que publicaram suas histórias e relacioná-las com conceitos de hospitalidade, turismo e responsabilidade social.

Eram alunas do curso de Bacharelado em Hotelaria, do Centro Universitário SENAC - Campus Santo Amaro. Estavam envolvidas em um projeto sobre o Carnaval.  Então, recorreram ao site "São Paulo Minha Cidade", promovido pela São Paulo Turismo.

Convite feito e aceito. Lá estava eu na manhã radiante contando o que havia por trás da minha história "Tudo é Carnaval", publicada neste sítio.

Meu imaginário povoou-se de lembranças soterradas no batuque daqueles idos. Bem no estilo do, “não põe corda no meu bloco, nem vem com seu carro forte, nem dá ordem ao pessoal”. Desandei a falar.

Lembranças em marcha. Fui pra “Maracangalha”.

Em 1957, o governador de São Paulo, Jânio Quadros, proibia o rock’n’roll em bailes, alegando afronta à moral e aos bons costumes. Na mesma época, crianças empunhavam frascos de lança-perfume em inocentes cortejos. Era um esguicho frio e perfumado, fabricado pela empresa Rodo. Evaporava-se rapidamente. Foi banido em 1961, acusado de ter se tornado uma espécie de droga, que era cheirada, em lugar de ser esguichada nas pessoas. Confete, serpentina e lança-perfume eram elementos carnavalescos e aliavam a “loucura” da folia típica do entrudo, à sofisticação das brincadeiras ao estilo francês.

Na São Paulo dos anos 60, as marchinhas sucediam-se ao embalo de Cuba Libre: 50 ml de rum com 100 ml de Coca-Cola, em copo com gelo e uma fatia de limão. Ou, Hi-Fi: vodka e Crush (a base de laranja). De comida? Amendoim e pipoca. Mas se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não.

Enfim as águas rolaram.

Hoje, os holofotes estão voltados às grandes escolas de samba e trios elétricos que movimentam o turismo. Porém, desde que o carnaval é carnaval, muita coisa rola onde menos se imagina. Aqui mesmo na região sul, temos o Bloco Reciclar a garantir bagunça barata, sustentável e fora das cordas.

Pela saudade que me invade, eu quero paz.