terça-feira, 7 de setembro de 2010

Transporte em São Paulo



Na represa Billings, perto da Escola de Emergência São Benedito, tinha a canoa do Zezinho. Ao menos uma vez por semana, ela e ele remavam até o outro lado. Uma cachoeira e as casas dos ricos eram as atrações. Navegar não é preciso.



E tinha também o bonde. À noite, o curso clássico, no Alberto Conte.

Chegou março de 1968 e o bonde morreu. Bem ali no Largo 13, onde, hoje, centenas de camelôs e seus clientes de pouca grana e muita fama se movimentam. Essa massa humana movimenta-se ainda mais rápido quando chega o "rapa". Que força nas pernas, meu! Que categoria nos braços com toda aquela tralha! Quanto equilíbrio na corda bamba da vida. Nessa olimpíada, essa turma é ouro. Ouro de tolo.



Numa quase meia-noite, ela no ponto de ônibus da Praça D. Benta. Bem atrás da Santa Casa de Santo Amaro, do lado do necrotério. A pilha de livros nas mãos. Pra quê tanto caderno, meu Deus? O ônibus chega e vem cheio. Lugar só para um pé no degrau. Mas dá pra subir. O outro pé fica pendurado. Material num braço e o outro com a mão livre pra segurar na porta. O ônibus parte e faz a curva para pegar a Rua Isabel Schmidt. O peso do mundo desaba sobre ela. A gritaria é geral. O motorista, que não era surdo nem nada, pára. Mas se engana quem pensa que ela caiu. O homem ao lado, agarrou seu rabo de cavalo e a manteve suspensa no ar. Material escolar estatela-se no chão. Tudo recolhido, segue transportada. Lugar mais à frente do ônibus apareceu do nada. "Que rabo forte, hein?" - um falou. "Essa foi por pouco".

Táxi era coisa rara, ainda mais praquelas bibocas. Não iam lá por dinheiro nenhum. Transporte certo era o "SPédois". Em tempos de Karman Guia.


Agora todos plugados, distâncias encurtadas em muitos megabites e esta demora para chegar. Os carros, bibelôs de asfalto.

Da canoa do Zezinho à cidade dos helicópteros, cuja frota só perde pra Nova Iorque. Ainda assim, 1/3 dos deslocamentos nessa cidade ainda é a pé.






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