terça-feira, 7 de setembro de 2010

O padrinho

Diz-se que nasci muito doente em função de uma sífilis mal curada do meu pai. E nasci em casa. Quase cega e cheia de furúnculos pelo corpo todo. A cabeça parecia uma bola de borracha (sem calcificação). A mãe me escondia das visitas. Era sempre igual: a pessoa chegava, olhava, fazia aquela cara de piedade e dizia: - Que engraçadinha! Também ela (a mãe) achava a menina muito feia. A pele esverdeada e os olhos saltados, sempre cheios de pus, lembravam um grilo. E como não melhorava e a todos dava pena, resolveram batizá-la em casa mesmo. Havia um mendigo que buscava comida lá em casa. Antonio Felpudo, assim o chamavam. Quando chegava, perguntava: - Como vai minha rosa branca? Nem sei se pelo carinho ou pela urgência, minha mãe pediu para ele me batizar junto com a minha tia. O batizado consistia em pegar a criança no colo, acender uma vela e repetir, mais ou menos, o ritual do padre. Por incrível que pareça, fui melhorando. Escapei. Do meu padrinho, lembro que, quando aparecia, me trazia coquinhos que ele catava e incluía nas “tranqueiras” que guardava no seu imenso saco. Eu era a única afilhada do “homem do saco”. Um dia sumiu para nunca mais voltar....

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